Como as marcas podem declarar que vidas negras são importantes agora e sempre

A teoria do marketing digital indica que as empresas devem marcar presença onde há tópicos que estão gerando conversas nas mídias sociais. Então vamos a uma questão atual: o que sua marca pode e pretende oferecer quando usa a hashtag de um movimento em luta contra o racismo?

Isso vai depender do que você entende sobre o uso da #BlackLivesMatter. Saiba que #VidasNegrasImportam não é apenas uma hashtag, é um movimento que significa séculos de negros exigindo o fim do racismo sistêmico e estruturado.

Publicar mensagens de apoio e de solidariedade aos protestos desencadeados pela violenta morte de George Floyd parece uma mensagem vazia se a marca não estiver comprometida a participar de mudanças reais contra o racismo estruturado na sociedade.

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Postar é fácil, mas as ações falam mais do que palavras. 

Como as empresas podem fazer declarações de apoio demonstrando que vidas negras são importantes agora e sempre? O passo mais importante é: concentre-se em iniciativas que permitam que os negros acumulem riqueza. Este é um verdadeiro sinal de compromisso da sua marca contra o racismo.

Vivienne Dovi, executive de media na MediaCom sugere algumas ações concretas.

Coloque dinheiro neste assunto — não basta falar. Tem que contribuir. Se uma marca usa a morte de George Floyd em suas mensagens, ela deve doar para o fundo oficial do memorial. Investir em programas educacionais e em negócios liderados por negros também é relevante. Quando vemos marcas capacitando a comunidade negra, a solidariedade é genuína.

Invista nas comunidades locais – Como são os programas da empresa para a comunidade negra? Já ofereceu espaços no escritório para empresários negros? Já convidou palestrantes negros para falar sobre seus próprios conhecimentos e não apenas sobre temas como identidade?

Olhe para dentro antes de falar – Quantos funcionários negros em posição de liderança há na empresa? Qual é a composição dos funcionários negros? Já perguntou como eles se sentem e qual a expectativa que eles têm da empresa quando aparecem para trabalhar todas as manhãs? Importante: se uma empresa não tem uma diversidade de funcionários em volta da mesa de reuniões, não há diferentes perspectivas sobre a própria marca, produtos, serviços e sobre o mercado.

O racismo acontece durante todo o tempo. Portanto, antes de publicar uma declaração, as marcas precisam garantir que tenham criado uma cultura na qual os funcionários negros possam prosperar. A mudança real começa internamente.

Cadeia de suprimentos — Quais o valores dos parceiros que se alinham à sua marca? Comece eliminando empresas que têm políticas problemáticas. Fale com elas sobre racismo. Neste caso, o foco é garantir que os parceiros também estejam combatendo o racismo sempre que possível. Ao terceirizar serviços de publicidade, por exemplo, observe a equipe de produção contratada para as campanhas. Há diversidade? Há pessoas negras? Elas estão recebendo o mesmo valor que os colegas brancos? Questione.

Reserve um tempo para se educar sobre como ser antirracista. Mudar a si mesmo antes de falar é vital, comprometendo-se a educar o pensamento dentro e fora da empresa. Mostrar o apoio contra o racismo não é feito da noite para o dia. É uma construção de longo prazo.

Conclusão: só vale falar se for uma intenção da empresa, não uma idéia do departamento de marketing ou comunicação. Caso contrário, as pessoas verão o texto como um dado falso. “Se uma marca ativar repentinamente o conteúdo em torno de uma causa que não possui histórico de suporte, ela parecerá superficial”, confirmou RJ d’Hond, da empresa de consultoria de dados Kantar.

Marketing social: por uma boa causa

A expressão Marketing Social surgiu nos EUA. Trata-se de uma ideia poderosa: criar programas que ajudem a melhorar a vida das pessoas.

O resultado é uma via de mão dupla. Mudanças sociais positivas trazem benefício a uma comunidade e também fortalecimento da imagem corporativa.

Claro que isso tem tudo a ver com a responsabilidade social da empresa e ações de marketing social também podem (e devem) serem tratadas como uma oportunidade de mercado.

Ao lançar mão da estratégia é preciso antes definir: por quê escolher este ou aquele grupo? Quais as ações de responsabilidade social que devem ser iniciadas? Lembrando que a empresa deve identificar qual a causa social mais relevante para seu público — as escolhas devem aspirar aos valores dos clientes e não o contrário.

Segundo dados do Instituto Ethos50% dos consumidores brasileiros declararam-se adeptos da prática de prestigiar ou punir as empresas com base em sua participação social. E 24% dos consumidores, procurariam comprar produtos de empresas que se destacam pela responsabilidade social.

Para obter sucesso, o trabalho deve ser realizado com base em técnicas gerenciais orientadas por princípios éticos, lembrando que a organização e a “causa” devem estar de acordo com as metas possíveis de serem alcançadas. Sobretudo, deve haver muita divulgação para despertar o “pertencimento” do cliente à “causa” adotada pela empresa.

Abaixo uma ação de marketing social da da Coca-Cola. Prepare-se que o vídeo é de emocionar (garimpei no Blog Marketing Now).

Contexto: os povos da Índia e do Paquistão vivem separados e em clima de tensão desde 1947. Como uma marca de refrigerante pode ajudar? Promovendo a comunicação e compartilhando um momento de Felicidade — a palavra-chave no Marketing da empresa.

Obs: as legendas são em inglês, mas dá pra traduzir clicando no menu — na parte inferior do vídeo.

Há iniciativas de custo menor e mais singelas. Na Lema 21, por exemplo, a cada óculos comprado outro é doado para uma associação de deficientes visuais.
O nome desta estratégia — que não é nova — é Compre um, doe um, ou Um por um. A primeira empresa a usar este marketing foi a OLPC, a entidade que criou um laptop de baixo custo, conhecido como o computador a preço popular de cerca de 100 dólares.

Que tal adotar o marketing social na sua empresa?